“Há mais de uma década, o bailarino Rui Moreira, ao investigar as fontes da arte afrobrasileira, colocou em pauta um tema importante: as relações entre a contemporaneidade e as tradições.
Artista descomprometido das obrigações de pesquisador, ele desenvolveu vários espetáculos – de propostas que visavam acordar memórias adormecidas no espectador a ações sociais que abrem espaço para estéticas de rua.
A criação/pesquisa de Rui Moreira atinge ponto notável em Faça algum barulho.
Ele parte de um ponto simples e instigante: o encontro do palhaço de folia de reis com o dançarino de break – com performances admiráveis de Rui e Rodrigo Peres.
Iluminação inspirada, projeções de imagens e textos, cenário que joga com opacidades e transparências, música, sons e silêncios criam o ambiente exato para essa proposta.
Até por possibilitar (e ampliar) infinito jogo de reverberações, espelhamentos e confrontos entre elementos em cena. O único ato, ao longo de 45 minutos, traz
interseções entre mundos, imaginários, tempos e histórias, por meio de passos da folia e do hip-hop. Isolados ou apresentados em câmara ampliada, revelam imagens potentes sobre o corpo e a sociedade.
Sabiamente, os bailarinos não se detêm no já codificado dessas estéticas, fazendo delas a base para voos coreográficos autorais que só multiplicam a complexidade do que está em cena. Que ninguém imagine relações dóceis entre o “velho” e o “novo”, entre o inovador e o tradicional.
Há diálogo, mas também tensão. Faça algum barulho seduz. É profundamente instigante para todos (inclusive pesquisadores e teóricos) que se interessam em pensar as questões levadas ao palco sem fórmulas simplificadoras, que, muitas vezes,
diluem temas essenciais para artes, culturas e sociedades.” Walter Sebastião